A pedido de EXAME, especialistas elegeram os deslizes mais frequentes de
ortografia, concordância e outros temas gramaticais do português. Veja a lista
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Lápis: veja os
erros de português mais comuns no mundo do trabalho (Ingram
Publishing/Thinkstock)
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São
Paulo — Quantas vezes por dia você interrompe suas atividades no trabalho para
tirar uma dúvida de português na internet ou em algum livro? Se você é como a maioria, não
deve fazer isso (quase) nunca.
A
ideia de que gramática é uma preocupação exclusiva de “puristas” da língua faz
muita gente negligenciar a norma culta — sob o falso pretexto de que ninguém
sabe as regras de qualquer maneira.
Não
é bem assim: um texto mal escrito pode gerar inúmeros mal-entendidos, além de
arranhar gravemente a sua reputação no mercado de trabalho. Afinal, falar e escrever corretamente é essencial para
conseguir emprego e evoluir na carreira em qualquer segmento.
A
pedido de EXAME, três professores selecionaram os erros de
português que mais aparecem no cotidiano profissional do brasileiro. Foram
eleitos os deslizes mais comuns em cinco âmbitos: ortografia, acentuação,
concordância, pontuação e pronúncia. Confira a seguir:
1. Falta (ou presença indevida) de hífen
O
erro de ortografia mais comum no universo corporativo é
resultado da recente Reforma Ortográfica da língua portuguesa, diz o professor
Diogo Arrais. autor gramatical pela Editora Saraiva. A grafia de expressões
como “bem-vindo”, “contracheque” e “autopromoção” frequentemente aparece com
problemas — seja por falta de hífen, seja pela presença indevida do tracinho.
Para
não errar mais, a dica do professor é observar a última letra do prefixo e a
primeira do radical. “Se forem idênticas ou se o radical for iniciado por H,
haverá hífen”, explica. “Caso contrário, o termo não será hifenizado”.
Verifique a regra nos seguintes exemplos: “anti-inflação”, “auto-observação” e
“super-homem” têm o sinal; “autopromoção”, “megaevento” e “contracheque”, não.
2. Acento circunflexo nos verbos “ver” e “vir”
Quando
o tema é acentuação, o deslize mais frequente tem a ver com o
acento circunflexo em formas do verbo “ver” e “vir”, diz Rosângela Cremaschi,
professora de comunicação da FAAP e autora do livro “Português Corporativo”
(Hunter Books, 2014).
Quando
flexionados na terceira pessoa do plural, os verbos assumem,
respectivamente, as formas “veem” e “vêm”. Acontece que o novo acordo
ortográfico aboliu o acento circunflexo de “veem”, mas o de “vêm” permanece. A
confusão trazida pela novidade faz com que a acentuação frequentemente acabe
sobrando em alguns casos, e faltando em outros.
3. Pronúncia incorreta do ditongo “ui”
Para
Reinaldo Passadori, professor de comunicação verbal e presidente do Instituto
Passadori, um dos erros de pronúncia mais repetidos em
português é dizer “gratuíto” no lugar de “gratuito”, ou “circuíto” em vez de
“circuito”. O problema na fala às vezes se reflete na grafia equivocada da
palavra, com acento.
O
motivo desses deslizes é a memória auditiva. “No Brasil, é muito mais comum
ouvirmos ‘RUim’, que é uma pronúncia incorreta, do que ‘ruIM’, que é a
pronúncia certa, por exemplo”, explica Arrais. O mesmo vale para “gratuito” ou
“circuito”: quantas vezes você já não ouviu essas palavras serem verbalizadas
incorretamente? Sem querer, o cérebro registra essas sonoridades e acaba por
reproduzi-las automaticamente.
4. Vírgula separando sujeito e verbo
No
capítulo de pontuação, os três especialistas ouvidos pelo site
EXAME concordam que o equívoco mais disseminado é inserir vírgulas onde elas
não deveriam aparecer. Veja um exemplo: “A gerente da área de finanças e
contabilidade, pediu um retorno do banco”.
Segundo
Cremaschi, quanto mais longo for o sujeito (no caso, “a gerente da área de
finanças e contabilidade”), maior a probabilidade do erro. Uma possível razão
para isso é o velho mito de que vírgula existe “para respirar”.
Não
é o caso, diz Arrais: a função do sinal é organizar sintaticamente os elementos
da frase, e assim permitir que a mensagem chegue ao interlocutor com clareza e
precisão.
Passadori
dá um exemplo que esclarece a função vital da vírgula. Na oração “Esse, juiz, é
corrupto”, você está declarando ao juiz que um determinado indivíduo comete
atos ilícitos. Sem
vírgulas, a frase “Esse juiz é corrupto” indica que o alvo da crítica é a
própria figura do magistrado.
5. “Busca-se candidatos” em vez de “Buscam-se
candidatos”
O
erro mais comum de concordância, segundo Arrais, aparece em frases
como “Busca-se candidatos resilientes e alinhados à cultura da empresa”. Como o
verbo “buscar” é transitivo direto (não exige preposição), a concordância deve
ser a seguinte: “Buscam-se candidatos resilientes e alinhados à cultura da
empresa”.
De
acordo com o professor, esse tipo de engano é comum porque o escritor imagina
que o termo ‘os candidatos’ funciona como complemento verbal — algo que
ocorreria na frase “Busco os candidatos”, por exemplo. Na verdade, trata-se de
um caso de voz passiva sintética — o que exige concordância entre entre sujeito
e verbo. Outros exemplos da forma correta são “Alugam-se salas” e “Revisaram-se
os custos.
5 out 2017, 06h00
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