Se você quiser ser desclassificado num processo seletivo, é só decorar estas falas. Veja o script perfeito de uma péssima entrevista de emprego
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Shhhh!: Veja as situações em que o silêncio vale ouro na entrevista (Melpomenem/Thinkstock) |
Ao longo de
mais de uma década de experiência com recrutamento,
Marcela Mota, gerente da consultoria Produtive, observa que os candidatos vêm
com mais “discursos prontos na ponta da língua” do que no passado, mas que os
deslizes estão se tornando mais frequentes por causa do momento amargo do
mercado de trabalho.
Com
a dificuldade de encontrar emprego, as pessoas têm chegado mais desesperadas
aos processos seletivos e muitas vezes acabam falando o que não deviam”, diz
ela. Exageros, mentiras, autoelogios e até palavrões têm aparecido com mais
frequência nas salas de entrevista, segundo a recrutadora.
Esses
tropeços no discurso podem arranhar a imagem de um candidato ou até excluí-lo
do processo seletivo, e portanto devem ser evitados. Mas a preocupação com a
própria fala também não pode gerar artificialismos e criar comportamentos robóticos — que, por sua vez, também
afastam oportunidades.
“O
candidato precisa falar o que pensa, ser espontâneo”, afirma Guilherme Malfi,
gerente da divisão de recursos humanos da consultoria Talenses. Para ele, o
único critério que realmente deve balizar o discurso de um profissional na
entrevista de emprego deve ser o respeito: não cabe falar de forma grosseira ou
preconceituosa. “Esse é o meu único fator de exclusão”, diz o headhunter.
Ainda
assim, certas frases específicas podem, sim, boicotar a sua candidatura —
especialmente se acompanhadas por outros fatores não-verbais, tais como
linguagem corporal, tom de voz e aquilo que Mota e Malfi descrevem como “a
energia do candidato”.
Mesmo as
falas mais adequadas não empolgarão o entrevistador se a pessoa estiver sentada
de forma desleixada, falar com um tom de voz displicente e parecer desanimada
com a vaga.
Quando o silêncio é ouro
Embora a
comunicação seja um processo complexo — e tudo dependa, a rigor, do contexto em
que acontece —certas frases simbolizam comportamentos considerados inadequados
para as necessidades atuais do mercado de trabalho.
A pedido
de EXAME.com, os recrutadores da Produtive e da Talenses listaram
algumas sentenças que valem (bem) menos do que o silêncio:
“Como me
vejo daqui a cinco anos? Não tenho ideia”
Entrevistas
de emprego não servem apenas para checar se você é compatível com a vaga
oferecida; a ocasião também é usada para conhecer o seu nível de maturidade e
interesse pela própria carreira. “Quando alguém responde que nunca pensou
sobre o próprio futuro, mostra que não é protagonista de sua história, que não
se conhece e não sabe o que quer”, diz Mota.
A falta
de autoconhecimento também pode ser demonstrada por ambições irreais. “Daqui a
cinco anos, me vejo como o CEO desta empresa” é o tipo de frase que sugere
arrogância e até ingenuidade quando parte, por exemplo, de um analista sênior.
“Melhor seria dizer que deseja ter sua própria equipe, e que inclusive está
fazendo sessões de coaching no momento para desenvolver suas habilidades de
liderança”, recomenda a gerente da Produtive.
“Meu
ex-chefe era muito grosseiro”
Além de
antiético, esse tipo de declaração pejorativa soa aos ouvidos do seu potencial
empregador como um mau presságio: se a pessoa está maldizendo seu antigo líder,
por que não faria isso no futuro com ele também?
Para
Malfi, fazer críticas sobre a sua experiência anterior não é proibido. Tudo,
mais uma vez, depende do tom e das palavras escolhidas. “Você pode dizer, por
exemplo, que não concordava com a linha de gestão do seu antigo chefe pelos
motivos x, y e z”, explica ele. “É muito diferente de dizer que ele era burro”.
“O ritmo
é puxado demais? / Tem muita hora extra?”
Não há
nada de errado em pedir detalhes sobre o modelo de trabalho do contratante. No
entanto, na visão dos especialistas ouvidos por EXAME.com, demonstrar
uma preocupação muito grande com a carga de trabalho pode cair mal numa
entrevista.
“É comum
ouvir candidatos perguntando se a empresa exige muito, se os funcionários
costumam trabalhar até mais tarde, sobre banco de horas, férias, salário, feriado”,
diz Mota. Segundo ela, esse tipo de indagação transmite que o candidato só está
preocupado com sua própria comodidade, e que não está tão interessado
efetivamente no trabalho que pode desempenhar naquela empresa.
“Quanto
tempo passei na empresa X? Não lembro direito, deixe eu ver aqui no currículo”
Segundo
Mota, muitos candidatos mostram dificuldades para relembrar detalhes da sua
trajetória e acabam usando o próprio CV para “colar” na hora da entrevista.
É um tiro
no pé. Frases que demonstram que o candidato não domina sua história
profissional costumam levar à desclassificação. “Se ele não conhece sua própria
carreira, quem é que vai conhecer?”, diz a especialista da Produtive. “É uma
postura que revela despreparo e descaso pela própria vida profissional”.
“Sou mais
criativo do que a média”
Pecado mortal em currículos, o autoelogio também precisa
ser evitado na entrevista — especialmente se vier desacompanhado de
justificativas concretas. “Dizer que você é bom, muito melhor em algo do que os
outros, não diz absolutamente nada”, afirma Malfi.
No lugar
de frases vagas sobre as suas competências, é melhor contar histórias reais e
específicas sobre algo que você fez.
Vale descrever algum projeto do qual você
participou, por exemplo, mas nunca de forma genérica: diga exatamente qual foi
a sua contribuição e que “marcas” você deixou. “Mencione resultados que a
empresa não teria tido se você não estivesse lá”, recomenda o gerente da
Talenses.
AUTORA: Por Claudia Gasparini - CARREIRA - VOCÊ S/A
Um comentário:
Importante saber fazer entrevista de trabalho
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