terça-feira, setembro 19, 2017

O Segredo - DANI ALVES





Eu vou começar contando um segredo. Na verdade, você pode tomar conhecimento de alguns segredos nesta história, porque sinto que sou incompreendido por muita gente. Mas vamos começar com esse primeiro segredo.
 
Três meses atrás, quando o Barcelona fez sua incrível remontada contra o Paris St-Germain pela Champions League, eu estava assistindo a cada lance sentado no meu sofá. Você podia pensar a partir da leitura dos jornais que eu esperava que meu antigo clube perdesse.
Mas e quando meu irmão Neymar marcou aquele lindo gol de falta? Eu pulei do sofá e estava gritando para televisão.
Vamooooooos!”
Quando o Sergi Roberto operou aquele milagre aos 50 minutos do segundo tempo?
Como todos os demais torcedores do Barça ao redor do mundo, eu estava ficando completamente maluco. Porque a verdade é que o Barcelona ainda está no meu sangue.
Fui desrespeitado pela cúpula dos dirigentes quando eu saí do clube no verão passado? Certamente que sim. É simplesmente a maneira como eu me sinto a respeito, e você jamais pode dizer algo diferente a esse respeito para mim.
Mas não é possível jogar por um clube ao longo de oito anos, e alcançar tudo o que nós alcançamos, e não ter esse mesmo clube no coração para sempre. Dirigentes, jogadores e membros do conselho vêm e vão. Mas o Barça nunca vai desaparecer.
Quando eu fui para a Juventus, eu fiz uma promessa final para a cúpula do Barcelona. Eu disse, “Vocês vão sentir saudades de mim”.
Eu não quis dizer como jogador. O Barça tem muitos jogadores incríveis. O que eu quis dizer foi que eles iriam sentir saudade do meu espírito. Eles iriam sentir saudade de alguém que prezava tanto pelo ambiente e pelo clube.
Eles iriam sentir saudade do sangue que eu derramei todas as vezes que eu coloquei a camisa do Barcelona.
Quando eu tive de jogar contra o Barcelona na rodada seguinte, pelas quartas-de-final da Champions League, havia um sentimento bastante estranho no ar. Especialmente no segundo jogo, no Camp Nou, a sensação era a de que eu estava em casa de novo.
Pouco antes do jogo começar, eu fui até o banco de reservas do Barcelona e cumprimentei meus colegas, e eles diziam: “Dani, venha e sente aqui conosco. Nós guardamos o seu lugar, irmão”.

Photo By Joan Valls/NurPhoto/ZUMA Press

Eu estava dando a mão para todos de costas para o árbitro. De repente, eu ouvi um apito. Eu me virei e o árbitro já iniciara a partida. Saí correndo para o campo, e eu pude ouvir meu antigo treinador, Luís Henrique, se matando de rir.
É engraçado, não? Mas aquele jogo não era uma piada, especialmente para mim. As pessoas me veem e dizem: “O Dani está sempre brincando. Ele está sempre sorrindo. Ele não é sério.”
Preste atenção, vou te contar outro segredo. Antes de eu enfrentar os melhores atacantes do mundo – Messi, Neymar, Cristiano Ronaldo – eu estudo as suas forças e as suas fraquezas como uma obsessão, e então eu planejo como vou atacar. Meu objetivo é mostrar ao mundo que Dani Alves está no mesmo nível. Talvez eles me driblem uma ou duas vezes. Certo, tudo bem.
 Mas eu irei para cima deles, também. Eu não quero ser invisível. Eu quero o palco. Mesmo aos 34 anos, depois de 34 troféus, eu sinto que tenho de provar isso todas as vezes.
Mas ainda é mais profundo do que isso.
Pouco antes de cada partida, eu sigo a mesma rotina. Eu fico de frente ao espelho por cinco minutos e bloqueio todo o resto. Então um filme começa a rodar na minha cabeça. É o filme da minha vida.




Na primeira cena, eu tenho 10 anos de idade. Eu estou dormindo numa cama de concreto na pequenina casa da minha família em Juazeiro (BA), Brasil. O colchão é tão fininho quanto o seu dedo mindinho. A casa cheira a terra molhada, e ainda está escuro lá fora. São 5 da manhã, e o sol ainda não nasceu, mas eu tenho de ajudar a meu pai na nossa fazenda antes de ir à escola.
Meu irmão e eu vamos para o campo, e nosso pai já está lá, trabalhando. Ele está carregando um tanque grande e pesado nas costas, ele está pulverizando as plantas e as frutas para matar as pragas de uma colheita.
Meu irmão e eu provavelmente somos muito novos para manipular, mas ainda assim nós ajudamos. Esta é a nossa forma de comer… de sobreviver. Por horas, eu fico competindo com meu irmão para ver quem é o trabalhador mais dedicado. Porque aquele que mais ajudar a nosso pai vai ter mais direito ao uso da nossa única bicicleta.
Se eu não ganhar a bicicleta, eu terei de caminhar 20 quilômetros da nossa fazenda até a escola. A volta da escola é ainda pior, porque eu tinha de voltar correndo para conseguir chegar a tempo de jogar a pelada.
Mas e se eu ganhar a bicicleta? Então eu posso ficar com as meninas. Eu posso escolher uma delas no caminho e oferecer uma carona até a escola. Por 20 quilômetros, eu sou o cara.
Então eu trabalho duro para caramba.
Eu olho para o meu pai enquanto eu saio para a escola, e ele ainda está com o mesmo tanque grande e pesado nas costas. Ele tem ainda um dia inteiro pela frente, e então à noite ainda há o pequeno bar que ele administra para ganhar um dinheiro extra.
Meu pai foi um jogador incrível quando ele era mais jovem, mas ele não teve dinheiro para ir até a cidade grande e ser notado pelos olheiros. Então ele faz questão de que eu tenha essa oportunidade, mesmo que isso custe a vida dele.
A tela escurece.
Agora, é domingo, e nós estamos assistindo aos jogos de futebol na TV preto-e-branca. Há um bombril amarrado na antena para que nós possamos pegar o sinal da cidade, que está muito distante. Para nós, esse é o melhor dia da semana. Há muita alegria em nossa casa.
A tela escurece.
Agora meu pai está me levando para a cidade com seu carro velho para que alguns olheiros possam me ver jogar. O carro tem transmissão manual, só com duas marchas – devagar e muito devagar. Eu posso sentir o cheiro da fumaça.
Meu pai é um lutador. Eu tenho de ser um lutador, também.
A tela escurece.
Agora, eu tenho 13 anos, e eu estou numa academia de futebol para jovens jogadores numa cidade maior, longe da minha família. Há 100 garotos reunidos num dormitório pequeno. É como se fosse uma prisão. No dia antes de eu sair de casa, meu pai me comprou um conjunto novo para jogar. Com isso, ele dobrou meu guarda roupa. Até então, eu só tinha um conjunto.
Depois do primeiro dia de treinamento, eu pendurei meu conjunto novo no varal. Na manhã seguinte, tinha sumido. Alguém levou. É quando eu percebo que esta já não é mais a fazenda. Este é o mundo real, e a razão para chama-lo de mundo real é porque a coisa é pra valer aqui fora.
Voltei para o quarto, e eu estava morrendo de fome. Nós treinávamos o dia inteiro, e não havia comida no suficiente no campo. Alguém tinha roubado as minhas roupas. Eu sinto saudades da minha família, e definitivamente eu não sou o melhor jogador por aqui. De 100, talvez eu seja o número 51 em termos de habilidade. Então eu faço para mim mesmo uma promessa.
Eu digo a mim mesmo: “Você não vai voltar para a fazenda até você deixar seu pai orgulhoso. Você pode ser o número 51 em habilidade. Mas você será o número 1 ou 2 em força de vontade. Você será um lutador. Você não vai voltar para casa, não importa o que aconteça”.
A tela escurece.
Agora, eu tenho 18 anos de idade, e eu estou contando uma das únicas mentiras que eu já disse no futebol.
Estou jogando pelo Bahia no Campeonato Brasileiro quando um importante olheiro vem até mim e diz: “O Sevilla está interessado em te contratar”.
Eu digo: “Sevilha, maravilhoso”
O olheiro diz: Você sabe onde fica?”
Eu digo: “Claro que eu sei onde Sevilha fica. Sev-iiiiiilha. Eu amo.”
Só que eu não faço a menor ideia onde fica Sevilha. Pelo que eu sabia podia ser na Lua. Mas do jeito que ele diz o nome parece importante, então eu minto.
Alguns dias depois, eu começo a perguntar por aí, e eu descubro que o Sevilha joga contra o Barcelona e o Real Madrid.
Eu digo para mim mesmo: “Agora”
Só se for agora! Vamos!
A tela escurece.
Agora em Sevilha, e estou tão mal nutrido que os técnicos e os outros jogadores olham para mim como se eu tivesse de jogar pela equipe mais jovem. Eu estou no meio dos seis meses mais difíceis da minha vida. Eu não falo o idioma. O treinador não está me colocando para jogar, e pela primeira vez eu penso em voltar para casa.
Mas então, por alguma razão, eu penso no conjunto que meu pai tinha comprado quando eu tinha 13 anos de idade. Aquele que levaram. E eu penso no meu pai novamente com o tanque grudado nas costas, espalhando veneno. E eu decido que vou ficar e aprender o idioma e tentar fazer alguns amigos, assim ao menos eu posso voltar ao Brasil com uma experiência nova para compartilhar.
Quando começa a nova temporada, nosso diretor passa a instrução a todos: “Aqui no Sevilha nossa defesa não ultrapassa a linha do meio campo. Nunca”.
Eu jogo alguns jogos, chuto a bola por aí, olhando sempre para aquela linha. Somente olhando para ela, como um cachorro que está com medo de ultrapassar alguma linha invisível no quintal. Então, num jogo, por alguma razão, eu apenas me solto. Eu tenho que ser eu mesmo.
Eu digo, “Agora
Eu simplesmente vou. Ataque, ataque, ataque.
Funciona como se fosse mágica. Depois disso, o técnico diz: “OK, Dani. Nova estratégia. No Sevilha, você ataca.”
Em poucos anos, nós vamos de um clube que ficava na zona do rebaixamento para levantar a taça da Copa da UEFA duas vezes.
A tela escurece.
Meu telefone está tocando. É meu agente.
“Dani, o Barcelona está interessado em te contratar”
Eu não tenho que mentir desta vez. Eu sei onde fica Barcelona.




Este é o filme que roda na minha cabeça quando eu olho para o espelho antes de cada partida. Ao final, antes de eu voltar para o vestiário, eu sempre digo a mesma coisa para mim mesmo.
Mano, eu vim da Pqp.
E estou aqui agora.
É irreal, mas eu estou aqui.
…Bora.
Quando eu tinha 18 anos de idade, eu atravessei o oceano para jogar por um clube que jogava contra o Barcelona. Então ter a honra de jogar pelo Barcelona? Era incrível. Eu consegui ser a testemunha de um verdadeiro gênio.
Eu me lembro que, durante um treino, o Messi estava fazendo coisas com a bola nos pés que desafiavam a lógica. Claro, é o tipo de coisa que ele fazia todos os dias. Só que desta vez algo estava diferente.
Agora, eu preciso lembrar a você, era uma sessão de treinamento extremamente intensa. Nós não estávamos brincando, jogando bobinho. O Messi estava driblando, atravessando a defesa, e finalizando como um matador.
E então, enquanto ele está passando por mim, e eu olho para os pés dele, e eu estou pensando comigo mesmo: “Isto é uma piada?”
E ele está passando por mim novamente, e eu penso: “Não, é impossível”.
E ele está passado por mim novamente, e agora eu tenho certeza do que estou vendo.
As malditas das chuteiras estavam desamarradas. As duas.
Eu quero dizer completamente desamarradas. Esse cara estava jogando contra os melhores defensores do mundo, simplesmente flutuando, e ele age como se fosse um domingo no parque. E esse foi o momento em que eu soube que eu jamais jogaria com alguém como ele novamente na minha vida.
E então, claro, há Pep Guardiola.
Photo By Otto Greule Jr/Getty Images
Se você virar a palavra computador de trás para frente, vai aparecer Steve Jobs.
Se você virar a palavra “futebol” de trás para frente, vai aparecer Pep.
Ele é um gênio. Vou dizer novamente. Um gênio.
Se você virar a palavra “futebol” de trás para frente, vai aparecer Pep.
Pep contaria para você exatamente como tudo ia acontecer num jogo antes mesmo da partida começar. Por exemplo, o jogo contra o Real Madrid em 2010, quando nós ganhamos de 5-0? Pep nos disse antes do jogo, “Hoje, vocês vão jogar futebol como se a bola fosse de fogo. A bola jamais ficará nos pés de vocês. Nem meio segundo. Se vocês fizerem isso, não haverá tempo para que eles nos pressionem. Nós ganharemos facilmente.”
Quando nós saíamos de uma preleção como essa a sensação era de que o jogo já estava 3-0 para nós. Nós estávamos tão preparados, tão confiantes, que nós sentíamos que já saíamos ganhando.
A coisa mais engraçada era se nós terminássemos o primeiro tempo e o jogo não estivesse indo bem; Pep se sentaria e esfregaria a cabeça.
Você sabe como ele esfrega a cabeça? Você já deve ter visto, não? É como se ele estivesse massageando o cérebro, procurando o gênio para agarrá-lo.
Ele faria isso na nossa frente no vestiário. Então, como mágica, surgiria uma revelação para ele.
Bang!
“Já sei!”
Daí, ele pularia e começaria a dar as instruções, desenhando o esquema no quadro.
“Nós faremos isto, e isto, e isto; e então nós marcaremos o gol”.
Então nós saíamos e fazíamos isto, e isto, e isto. E era assim que nós fazíamos o gol. Era uma coisa maluca.
Pep foi o primeiro treinador da minha vida que me ensinou a jogar sem a bola.
E ele não somente exigiria que os jogadores mudassem seu jogo, ele nos fazia sentar e nos mostrava por que gostaria que nós mudássemos com estatísticas e vídeo.
Photo By David Ramos/Getty Images
Aqueles times do Barça eram quase imbatíveis. Nós jogávamos de memória. Nós já sabíamos o que nós iríamos fazer. Nós não tínhamos que pensar.
É por isso que, até hoje, o Barça está no meu coração.
E foi por isso que, quando nós batemos o Barcelona na Champions League, eu fui até meu irmão Neymar, e dei um abraço nele. Ele estava chorando, e eu estava quase chorando, também.
Eu posso imaginar as pessoas lendo isso, perguntando-se por que é que estou dividindo esses segredos.
Bem, a verdade é que estou com 34 anos. Eu não sei por quanto tempo ainda vou jogar. Talvez dois ou três anos. E eu sinto que as pessoas não me entendem, tampouco a minha história completa.
Quando eu vim para a Juventus nesta temporada, foi como se eu estivesse saindo de casa novamente. Eu fiz isso com 13, quando fui para a escola de futebol. Eu fiz novamente aos 18, indo para a Espanha. E fiz mais uma vez, aos 33, indo para a Itália.
Outra vez, eu estava como o cachorro no quintal. Eu estava olhando a cerca invisível.
Devo ir?
Mas eu não fui. No começo desta temporada, eu quis ter a certeza de que os jogadores da Juve entendiam que eu respeitava a filosofia deles, assim como a história do clube. Uma vez que eu tivesse a confirmação de ter conquistado o seu respeito, eu tentaria mostrar a eles minha força, também.
Um dia, eu olhei para a linha do meio campo e disse para mim mesmo, Devo ir?
Bang! Agora.
Ataque, ataque, ataque (e, OK, um pouco de defesa, também, ou Buffon ficará gritando comigo).
Às vezes, eu penso que a vida é um círculo.
Veja, eu não consigo escapar destes argentinos.
No Barça, eu tinha o Messi.
Na Juve, eu tenho o Dybala.
Photo By Daniele Badolato/LaPresse/Icon Sportswire
Os gênios me seguem em todo o lugar, eu juro.
Um dia, no treinamento, eu vi uma coisa no Dybala que eu vi no Messi. Não é apenas o dom do puro talento. Eu tenho visto isso muitas vezes na minha vida. É o dom do puro talento combinado com a vontade de conquistar o mundo.
No Barça, nós jogávamos de memória.
Na Juve, é diferente. É a mentalidade coletiva que nos levou até a final da Champions League. Quando o apito soar, nós simplesmente daremos um jeito de ganhar não importa a dificuldade. Ganhar não é apenas um objetivo para a Juve; é uma obsessão. Não há desculpas.
Neste sábado, eu tenho a chance de conquistar a 35ª taça em 34 anos de vida na terra. É uma oportunidade especial para mim, e isso não tem nada a ver com provar para a cúpula do Barcelona que eles cometeram um erro ao me deixarem sair de lá.
Eu sei que eles jamais vão admitir isso.
Esse não é o ponto.
Você se lembra quando eu contei a respeito da academia de futebol no Brasil, quando eu disse a mim mesmo que eu jamais voltaria para a fazenda até fazer meu pai ficar orgulhoso?
Bom, meu pai não lá uma pessoa muito emotiva. Eu nunca soube quando verdadeiramente alcancei aquele momento de fazê-lo ficar de fato orgulhoso. Durante a maior parte da minha carreira, ele estava em casa, no Brasil.
Mas em 2015 ele foi a Berlim para me ver ganhar a final da Champions League pela primeira vez pessoalmente. Eu me lembro que, após as comemorações pela conquista nos gramados, o Barça deu uma festa especial para as famílias dos jogadores.
Nós tivemos que entregar o troféu para as pessoas que nos ajudaram a realizar nossos sonhos. Então eu me lembro que, quando foi a minha vez, passei o troféu para o meu pai, e nós dois o estávamos segurando, posando para a foto.
Então, ele disse uma coisa, que, por ser um palavrão, eu não vou reproduzir aqui exatamente com precisão.
Mas, basicamente, ele disse algo do tipo “Meu filho é o cara agora”
E você quer saber? Ele estava chorando como um bebê.
Aquele foi o grande momento da minha vida.
No sábado, eu terei a oportunidade de jogar por outro troféu da Champions League contra um oponente bastante conhecido. Como sempre, eu estudarei o Cristiano Ronaldo como uma obsessão.

Como sempre, eu irei para a frente do espelho antes da partida e rodar o mesmo filme na minha cabeça.
A tela escurece, e eu me lembro destas coisas…
Minha cama de concreto.
O cheiro da terra molhada.
Meu pai carregando o tanque de veneno nas costas.
O caminho de 20 quilômetros até a escola.
O novo conjunto de roupa.
O varal de roupas vazio.
“Claro que eu sei onde é Sevilha”
Mano, eu vim da Pqp.
E estou aqui agora.
É irreal, mas eu estou aqui.

May 31 2017/


Contributor

 


Como eu driblei a timidez e me tornei um profissional melhor

Inspirado pelo Daniel Alves, eu vou começar te contando um segredo


Quem me viu naquele já longínquo 5 de maio de 2017 palestrando na primeira edição do #MeetupMSSP ao lado de feras como Priscila Stuani e Andrio Ferreira, não faz ideia que aquele moleque franzino, meses antes, ao largar seu emprego numa agência de marketing para virar freelancer, ouviu do seu antigo chefe que precisava se “comunicar mais”.

Levei aquele conselho numa boa. Eu sabia que, no fundo, ele tinha razão. Sempre dei muito valor aos conselhos de pessoas mais experientes e não foi diferente daquela vez. Afinal de contas, ouvi aquilo do capitão do time. Ele é um cara que entende das coisas.
Mas, por que ele disse isso?
Bom, meu trabalho como desenvolvedor web exige muita concentração. No dia a dia da agência, como estava sempre focado nas linhas de código, conversava pouco com os colegas. Por, digamos, ficar fechado naquele meu “mundinho”, passei a impressão – correta, confesso – de ser uma pessoa tímida, um cara de poucas palavras.
Assim que me despedi do pessoal e cheguei em casa, fiquei pensando naquelas palavras. Deitei na minha cama e fitei o teto por alguns minutos. Aquilo ficou martelando na minha cabeça. Se meu objetivo era trabalhar por conta própria, ser um freelancer, eu não podia passar essa imagem. Eu precisava ser um cara comunicativo! Eu precisava driblar a timidez!
Em tudo o que me proponho a fazer, procuro sempre entregar o melhor. E isso é real, não é clichê de entrevista de emprego. Esse negócio de vestir a camisa e dar o sangue é algo que aprendi desde cedo no futebol. Então, nunca me importei em fazer horas extras, por exemplo, e mesmo ganhando relativamente pouco na época, por adorar o que fazia e, principalmente, o ambiente de trabalho, eu realmente me entregava para a empresa. Tinha orgulho de estar ali.
Digo isso porque quando cheguei em casa naquele dia, após o tal conselho, a vida de freelancer deixou de ser vontade e se tornou realidade. Isso significava que a partir daquele dia eu deveria superar minhas limitações no que dizia respeito a comunicação. Se antes eu era o que chamam no futebol de “jogador para compor o elenco”, agora tinha me tornado o camisa 10 e capitão: o astro da companhia.
Se na agência eu só precisava programar, trabalhando por conta própria eu deveria tratar diretamente com clientes. Eu precisava ter um relacionamento próximo com esses caras – ou teria sério problemas. Eu precisava me vender! Eu precisava ser visto! Eu precisava de tantas coisas...
O poder da palavra “sim”
Em meio à tempestade, o convite inesperado. Enquanto eu continuava sem rumo, a Priscila Stuani, minha cliente, me convidou para ser o organizador e um dos palestrantes da primeira edição do Meetup de Redes Sociais em São Paulo. Eu, o moleque da base que precisava se comunicar mais.
Confesso que fiquei mais desorientado do que a defesa do Brasil naquele 7x1 contra a Alemanha. Minha timidez quase me forçou a recusar o convite. Porém, enxerguei aquilo como uma oportunidade. Um desafio, na verdade. Talvez um evento do tipo fosse exatamente o que eu precisava naquele momento.

O drible histórico do argentino Messi no zagueiro alemão Boateng. Foto: Divulgação.

Bom, eu aceitei o convite. E posso afirmar que dizer “sim” foi o drible perfeito para cima da minha timidez – como se o poder dessa palavra fosse o Messi e meus medos o Boateng...

Citei o Daniel Alves no início do texto porque aqui cabe uma analogia sobre algo que ele citou naquele texto.
“Quando eu fui para a Juventus, eu fiz uma promessa final para a cúpula do Barcelona. Eu disse, 'Vocês vão sentir saudades de mim'. Eu não quis dizer como jogador. O Barça tem muitos jogadores incríveis. O que eu quis dizer foi que eles iriam sentir saudade do meu espírito. Eles iriam sentir saudade de alguém que prezava tanto pelo ambiente e pelo clube. Eles iriam sentir saudade do sangue que eu derramei todas as vezes que eu coloquei a camisa do Barcelona”. – Daniel Alves.
Quando deixei a agência para trás, prometi a mim mesmo que procuraria ser mais comunicativo. Mais que prometer, eu tomei uma atitude! Eu deixei para trás as famosas “crenças limitantes” e disse “sim” para algo totalmente fora da minha zona de conforto.

 
O Meetup de Mídias Sociais evoluiu e hoje é um projeto que tem se mostrado como um marco positivo na minha vida. Tudo porque eu disse “sim”! Conheço pessoas novas a cada edição, faço muito networking e participo de várias reuniões presenciais. Agora, quando o assunto é comunicação, me sinto o Neymar no PSG: recebo o passe e driblo o time inteiro! Haha!
O conhecimento é o melhor investimento
Sou um cara autodidata, sempre busco aprender coisas novas sobre a minha área. Ela muda com frequência e está em constante evolução, então tenho que estar ligado nas novas tecnologias para entregar o melhor para os meus clientes.
O Meetup me ajudou a superar a timidez e, de certa forma, a ser visto, mas eu ainda não sabia como lidar com a questão do marketing pessoal – algo fundamental para qualquer profissional (autônomo ou não).
Percebi que, diferente da minha área de atuação, dessa vez eu precisaria de ajuda profissional. Eu precisava investir em mim mesmo. Foi então que conheci o Matheus de Souzao terceiro brasileiro mais influente do LinkedIn. O cara tem vários artigos publicados sobre o tema (como esse aqui) e, recentemente, lançou um curso totalmente online sobre “Marketing Pessoal e Produção de Conteúdo no LinkedIn”. Fui um dos primeiros alunos e posso dizer que suas dicas foram e estão sendo fundamentais na minha carreira como freelancer. Tenho utilizado o LinkedIn como a principal ferramenta para gerar novos negócios e até então meus resultados têm sido excelentes.
Além disso, um livro também me ajudou muito.
Sabe quando o técnico aproveita que o jogo está parado e chama o jogador na beira do gramado para dar uns conselhos? O momento é esse!
Tem dificuldades para se expressar e falar em público?
Então, vamos lá:
TED Talks”, escrito pelo presidente do TED, Chris Anderson, é um guia para você falar em público.
Esse livro explica como alcançar o feito de produzir uma fala marcante. Não há uma fórmula, já que nenhum discurso deve ser igual a outro. Contudo, existem ferramentas que podem garantir o desempenho de qualquer orador.
Talvez a timidez ainda me drible duas ou três vezes
Conto tudo isso porque, muitas vezes, ficamos paralisados quando encaramos o desconhecido. O tal do “eu não sei fazer isso” nos impede de seguirmos em frente. Se eu dissesse “não” para a Priscila, certamente não estaria aqui escrevendo este texto. Se eu colocasse em minha cabeça que ser visto no LinkedIn é algo para poucos, certamente não teria investido no curso do Matheus e fechado novos negócios desde então.
Bom, assim como o Daniel Alves, encerro o texto te contando outro segredo.
Talvez a timidez ainda me drible duas ou três vezes. Certo, tudo bem. Mas eu irei para cima dela, também. Eu não quero ser invisível. Eu quero o palco. E é dizendo “sim” e me aperfeiçoando que faço isso.
Foi assim que driblei a timidez e me tornei um profissional melhor.
Publicado em 14 de setembro de 2017
Lucas Souza













FONTE:https://www.linkedin.com/pulse/como-eu-driblei-timidez-e-me-tornei-um-profissional-melhor-souza?trk=eml-email_feed_ecosystem_digest_01-recommended_articles-12-Unknown&midToken=AQEbJRdFzLUhHg&fromEmail=fromEmail&ut=2OJ2EtpQfOZ7U1

segunda-feira, setembro 18, 2017

FOSFERTIL - comemoração de 25 anos de empresa

COMEMORAÇÃO 25 ANOS

A comemoração dos 25 anos da Fosfertil, realizada em 2003, foi um evento marcante que celebrou o compromisso e a dedicação dos empregados que ajudaram a construir essa empresa ao longo dos anos. A Fosfertil sempre valorizou seus funcionários, reconhecendo o papel fundamental que desempenharam no crescimento e na consolidação da empresa no setor de fertilizantes.

Com o passar dos anos, a Fosfertil passou por diversas incorporações e mudanças estruturais, o que impactou diretamente a relação da empresa com seus colaboradores. Em 2010, a Fosfertil foi adquirida pela Vale Fertilizantes, e posteriormente, em 2018, tornou-se parte da Mosaic Fertilizantes, uma das maiores produtoras de fertilizantes do mundo. Essas transformações alteraram significativamente a cultura organizacional, e muitos dos antigos funcionários acabaram deixando a empresa.

Apesar das mudanças, essa celebração de 2003 continua sendo uma lembrança especial para aqueles que fizeram parte da história da Fosfertil.


Em pé: Fausto Barreto, Chadú e Aurelio
Sentados: Vilson Florentino e Sebastião Felizardo

Alguns nomes: João Cadu, Mauro Carias, Renato Capucci, Perpetuo, Rogerio, Vilson, João Dimas, Chadu, Manoel, Aurelio e Felizardo.  Flávio, Jamelão, Nadin, Marota, Júlio, Romilda, Rodrigo Perfeito, Armondes
A memória falhou e deixei de citar alguns nomes.

É possível transformar um hobby em profissão?




Como você sabe, eu trabalho com recolocação e transição de carreira, ou seja, presto consultoria a pessoas que estão buscando um novo trabalho, mudando de área ou iniciando um novo negócio. Esse artigo é fruto de uma entrevista que dei à rede Globo.
 
Como recebo sempre muitas dúvidas a respeito, também quis escrever sobre o assunto. Atualmente tem muita gente querendo empreender, às vezes, transformando seu hobby ou suas paixões em fonte de renda.   
 
Um dos fatores que tem impulsionado essa mudança é a situação do mercado. Por causa da crise e da alta taxa de desemprego, a quantidade de mão de obra reserva é bastante grande. Isso faz com que o mercado não consiga absorver todas essas pessoas em empregos formais. Dessa forma, talvez você precise se reinventar e é nesse momento que pode descobrir que não necessita de um emprego formal e sim de um trabalho que possibilite uma remuneração. A partir daí pode se perguntar o que pode fazer para ocupar seu tempo fazendo o que gosta e ser bem remunerado por isto.
 
Se você chegou a essa conclusão, é preciso que responda algumas perguntas antes de seguir por esse caminho.
 
Eu tenho a persistência suficiente?
 
Qualquer empreendedor, especialmente no Brasil, precisa ter muita paciência e persistência. Não se trata simplesmente de achar que você irá abrir um negócio e haverá uma multidão de clientes na sua porta os quais vão lhe proporcionar uma renda três ou quatro vezes maior do que a que tinha antes.
 
Pelo contrário, possivelmente nos primeiros meses a sua renda será ainda menor do que a que tinha quando estava empregado. Esse retorno vem com tempo e dedicação ao seu negócio. E te digo que você será testado diariamente, pois terá que pensar no todo e muitos problemas surgirão. Um dia é a internet que não funciona, outro dia é o cliente que não lhe pagou, outro dia é a máquina do cartão de crédito que deu pane e assim por diante. E, no início é provável que não tenha equipe para cuidar disto, você mesmo terá que colocar a mão na massa, dar conta de todas as suas atividades, sorrir para o cliente e resolver os problemas operacionais.
 
Eu tenho a disciplina necessária?
 
Há pessoas que só produzem satisfatoriamente quando precisam prestar contas a um cliente ou chefe. De outro modo, elas simplesmente se acomodam. Ter seu próprio negócio exige estar em constante movimento, trabalhando, em muitos casos, até mais do que quando se tinha emprego para alcançar o objetivo. É possível que sua cabeça trabalhe 24 horas por dia, e é aí que muitos empreendedores desistem, pois você se vê escravo do seu próprio negócio. Em muitas situações pode ter muitas saudades da época em que era CLT e no fim do dia desligava o seu computador e sua mente era livre pra não pensar mais em trabalho. Ter uma empresa exige muita disciplina. Eu mesma sou a dona da empresa e tenho um plugin que desabilita o feed de notícias do meu facebook, ou seja, só entro nesta rede social fora do trabalho. E o meu negócio começou a render muito mais quando descobri que era necessário sim que eu cumprisse horário, estivesse no escritório no mínimo 8 horas por dia. Atualmente trabalho muito mais que isso e preciso de muita disciplina, pois ninguém me diz o horário que eu tenho que cumprir, ou se posso ou não entrar em rede social no horário do expediente. Sou eu mesma que defino isto. Para tal o meu nível de disciplina tem que ser muito mais alto do que quando eu era funcionária.
 
Eu sei vender?
 
Muitos acham que fazer propaganda na internet é suficiente para obter o retorno necessário. O processo de venda acontece o tempo inteiro. Conhecer as estratégias para vender adequadamente o seu produto ou serviço é algo muito importante. A grande sorte é que temos hoje muitos cursos e conteúdo interessante na internet. Saber vender é uma competência que pode sim ser adquirida. E se você já está entrando em campo com o pensamento “eu não sei vender” precisa ressignificar isto agora mesmo, pois as pessoas prósperas e bem-sucedidas sabem sim vender, principalmente realizando autopromoção.
 
O que se necessita é de disposição para buscar esse saber, assim como disponibilidade para se reinventar, se preciso. Por exemplo, eu, nesse momento, não sou a Tais tímida e introvertida, pois, ao escrever esse artigo ou quando gravo um vídeo, estou focada na minha missão de vida, que é impactar a existência de mais pessoas. E para tal eu preciso SIM vender a minha imagem e ser capaz de promover os meus serviços.
Se você reconhece que precisa aprender mais, o primeiro passo é ajuda. Várias instituições poderão lhe oferecer uma base para iniciar seu negócio através de cursos gratuitos, consultoria e planejamento estratégico.
 
Ao elaborar um plano de negócios, por exemplo, você terá a oportunidade de se questionar sobre uma série de aspectos, bem como aprender sobre outros. É nesta etapa que você vai pensar sobre aonde quer chegar, quanto estima faturar, quem é seu público-alvo, entre outras questões, além de adquirir o preparo técnico para iniciar o empreendimento.
 
Isso se chama estratégia. Assim você não usa simplesmente a cara e a coragem, mas tem o seu voo orientado por uma instituição que tem know-how do assunto. A partir de todas essas questões definidas, você poderá traçar metas e aprender o básico sobre uma série de aspectos, inclusive financeiros, que serão necessários para o sucesso do seu negócio.
 
É difícil transformar o hobby em negócio?
 
Para algumas pessoas, é bastante difícil transformar o hobby em negócio. Isso acontece porque muitos têm o que podemos chamar de crenças limitantes. Trata-se de pensamentos do tipo “como eu estou ajudando pessoas, não vou cobrar por isso ou cobrarei muito pouco” ou “cobrarei bem menos do que meu produto vale, dando desconto às pessoas” “fazer o que se ama é utopia”.
 
Saber cobrar é extremamente importante. Compreenda que seu hobby se transformou em um negócio. Para que ele dê certo e você possa manter a qualidade, é muito importante ser bem remunerado por isso. Valorize o seu esforço, os cursos que fez e as horas de trabalho que foram necessárias para que se pudesse chegar a um resultado satisfatório.
 
Em suma, aprender a precificar o seu trabalho e/ou o seu produto é extremamente importante para o sucesso do seu negócio.
 
Quero te dizer que é viável ganhar dinheiro com a sua paixão. Mas é preciso persistência, disciplina e saber vender. Todas essas habilidades podem ser aprimoradas ou até aprendidas.
 
Por isso, dê o primeiro passo e se esforce. Tenha clareza de quais são os seus talentos, do que te dá prazer e de que maneira poderia usar os seus dons a serviço dos outros. Para isso eu te lanço 3 perguntas:
 
- Se eu entrasse no seu computador agora, qual seria o seu histórico de navegação?
- Para que geralmente as pessoas ao seu redor solicitam a sua ajuda?
- Se vivêssemos em um país socialista onde não houvesse diferenças salariais e você pudesse escolher qualquer profissão, o que você decidiria fazer?
 
É importante que você se faça estas perguntas e muitas outras, tentando descobrir qual é a sua missão.  Aos poucos o universo vai conspirar a seu favor. Não há sensação melhor do que fazer o que se gosta, do que ter a certeza de que está usando os seus talentos e cumprindo seu propósito no mundo. Quando podemos acordar todos os dias para fazer isso, a vida se torna mais leve e as pessoas são mais felizes.
 
Tais Targa - Top Voices LinkedIn
Psicóloga, Mestre em Educação e Coach de Empregabilidade – Job Hunter. Mentora de Coaches e especialista em Otimização de LinkedIn. Seu histórico profissional engloba empresas tais como: KPMG, FIEP e Universidade Positivo. Atualmente é responsável pela TTarga Carreira e Recolocação, atuando desde 2010 nos serviços de Recolocação Profissional, Transição de Carreira e Coaching. Empreendedora digital, empresária, aficionada por redes sociais, palestrante, autora, mãe e autodidata.
Publicado em 

segunda-feira, setembro 11, 2017

O dia em que os Beatles saíram da zona de conforto

 

Você já deve ter lido ou ouvido alguma história de alguém que estava desmotivado, combalido ou completamente perdido em um emprego chato e entediante, mas que, de repente, saiu da zona de conforto e engatou vida e carreira novas. O mundo corporativo está cheio delas.
Agora imagine o roteiro acima com uma premissa diferente. Uma história de caras milionários, que já haviam encontrado a fórmula do próprio sucesso e que, mesmo assim, resolveram abandonar a segurança das certezas e se enveredar por caminhos que ninguém havia trilhado.  
 
Uma história de caras milionários, que já haviam encontrado a fórmula do próprio sucesso e que, mesmo assim, resolveram abandonar a segurança
 
Os caras em questão são os Beatles. Em 1966, depois de uma exaustiva turnê e no auge da carreira, os integrantes da banda estavam angustiados. Não se sentiam muito satisfeitos com o que haviam criado ou achavam que seus trabalhos, até então, se ressentiam da falta de uma pegada mais pessoal e criativa.
Nessa trajetória musical há uma fabulosa lição sobre um dos itens mais repetidos dos guias motivacionais: o “como sair da zona de conforto”. A começar pela redefinição desse conceito por vezes nebuloso.
Se para muitos essa tal “zona” significa um trabalho repetitivo ou mal reconhecido, algo que parece um pouco distante do que pode ser chamado confortável, para os Beatles ela era um lugar onde faziam fortuna, centenas de shows e ainda contavam com um refúgio mais do que seguro, digno daquela que já era considerada a maior banda do mundo.
Mas foi a partir dessa encruzilhada que começou aquele que pode ser considerado o álbum mais perfeito - ou o mais influente - dos Beatles e que completou 50 anos em 2017: Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band.
 
Os Beatles decidiram recomeçar mesmo antes de seus integrantes completarem trinta anos
 
Os Beatles decidiram recomeçar mesmo antes de seus integrantes completarem trinta anos. Primeiro, deram um tempo dos concertos e aparições. Meses sumidos. Chegaram até a dizer que não tocariam mais ao vivo. Não suportavam mais as longas turnês e viagens intermináveis. Todos concordaram que precisavam descansar.
A história diz que usaram o tempo livre em busca de muitas coisas que ainda não haviam experimentado. Entre elas, o autoconhecimento. Sem esquecermos de que na época, o LSD também era um propulsor para viagens interiores, ainda que seu efeito nas criações do quarteto seja muitas vezes superestimado. Mais decisivos que as drogas foram as condições necessárias para que cada músico pudesse se encontrar em meio ao caos mental e físico.
A volta às origens, à infância e, às essências de cada um se refletiu nas músicas e nas letras que chegariam em maio de 1967. As sonoridades dos metais, a influência das músicas que ouviam em casa e as letras sobre o amadurecimento que aparecem em canções como “Gettting Better” ou “Fixing a hole” são exemplos da mudança de postura da banda que, apesar do envelhecimento, não deixaram de tocar os ouvidos dos jovens como em “With A Little Help From My Friends” ou mesmo em canções que podem até ser ouvidas por crianças como a clássica “Lucy In the Sky with Diamonds”.
 
Para escapar do conforto em que haviam se deitado como “Reis do Yeah, yeah, yeah”, os Beatles também se permitiram a liberdade necessária para criar coisas novas
 
Para escapar do conforto em que haviam se deitado como “Reis do Yeah, yeah, yeah”, os Beatles também se permitiram a liberdade necessária para criar coisas novas. Utilizar o nome Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band foi como estabelecer um pseudônimo que os concedesse um aval para soar como uma banda nova, sabendo do risco que corriam com os fãs mais conservadores, mas atentos às possibilidades de encontrar um público ainda maior para suas músicas.
A primeira faixa, que também leva o nome de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” é exemplo de uma guitarra com a distorção que serve para definir tudo o que é chamado de rock até hoje, 50 anos depois do seu lançamento.  
Nessa ebulição criativa, os Beatles também definiram o que se acostumou a chamar de álbum conceito. Uma sequência de músicas feitas sem interrupção que contam uma história com começo, meio e fim. Para quem acha que storytelling é coisa nova, em 1967 os Beatles estavam fazendo isso em um disco de vinil.
É mais difícil entender pra quem já nasceu na era do flow dos aplicativos de música. No entanto, Sgt. Pepper’s é um disco feito para se escutar de ponta a ponta. A ordem de nenhuma música está ali por acaso e vale à pena sair da zona de conforto por essa experiência. Aliás, o conceito de um álbum já começava na capa. No caso de Sgt Peppers, um trabalho feito por Peter Blake, que reuniu as maiores referências da banda - podemos identificar o escritor Edgar Allan Poe, o ator Marlon Brando, Bob Dylan e até Karl Marx, entre muitas outras.
 
Sgt. Pepper’s é um disco feito para se escutar de ponta a ponta. A ordem de nenhuma música está ali por acaso
 
Mesmo com tanta coisa boa, não quer dizer que os Beatles tenham acertado tudo a toda hora. George Martin, produtor da banda na época, considera até hoje um de seus maiores equívocos profissionais a não inclusão de duas músicas criadas no período de produção de Sgt. Pepper’s: Penny Lane Strawberry Fields Forever. Já os Beatles não parecem ter motivos para lamentar. Sgt Peppers ficou 15 semanas no topo da Billboard e 27 semanas liderando a lista do Reino Unido. É até hoje uma das obras mais cultuadas entre fãs de todo o mundo.  
PS.: Fiz questão de colocar o link das músicas que mencionei para que fique mais divertido acompanhar o texto. Mas há outro motivo: embora muito se fale de Sgt. Pepper’s, muita gente não dedicou pouco mais de 40 minutos para escutar o álbum todo. Então, deixo o convite para essa oportunidade.

Publicado em 5 de setembro de 2017

Rodrigo Focaccio
 
 
 
 
 
 

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