Naquela época, não existia Bolsa Família. A escola fornecia o uniforme escolar, mas o material era comprado com o suor e o esforço de nossos pais. O calçado que marcava as nossas jornadas era de marcas conhecidas – Vulcabrás, Conga, Ki Chute, Bamba… e, claro, as queridas alpargatas. Sem a comodidade dos celulares, as pesquisas para as aulas eram realizadas em bibliotecas públicas e nas enciclopédias, fontes preciosas de conhecimento à disposição de todos.
Em uma fotografia que sempre desperta boas lembranças, é possível identificar, em pé, João Gonçalves Júnior, Waner Andrade, José Orlando Andrade e Dario Afonso Oliveira (mais conhecido como Silkmania). Ao lado, agachados e descontraídos, Rui Barbosa Gonçalves, César Sebastião Andrade, Aires Marcos Andrade (Dr. Aires), Marco Antônio Andrade e Fernando Gomes Menezes, carinhosamente apelidado de Lanches Caseiro. Cada um desses rostos representa um capítulo cheio de histórias e amizades construídas no calor dos jogos e desafios diários.
No final da década de setenta, a rotina escolar era repleta de desafios: tirávamos notas azuis com orgulho e, se surgiam as vermelhas, o susto era inevitável – a meta era sempre manter as avaliações acima de 7. Na rua, as brincadeiras tomava diversos rumos: jogar bola, queimada, pular corda, subir em árvores, brincar de pular elástico, de pique-esconde, de polícia e ladrão, andar de bicicleta ou carrinho de rolimã, soltar papagaio (ou arraia, ou pipa) e, muitas vezes, ficar até tarde sob o luar. Esses momentos formavam a essência de uma infância vivida com intensidade e liberdade.
Foi nessa mesma época que a família Andrade – liderada pelos irmãos Sebastião, César, Aires Marcos, Waner e os primos Marco Antônio e Orlando – se uniu aos meninos que moravam nas imediações da Rua Doutor Orôncio Dutra, no centro de Araxá, para formar um time de futebol de rua. Os times de futebol de rua eram abundantes na cidade, e o que não faltava eram campos para disputar jogos. Um pequeno detalhe marcante: todos os campinhos eram de terra batida, e a preferência era jogar próximo de casa, com os deslocamentos feitos a pé – cada passo carregava a vibração de uma verdadeira paixão pelo jogo.
Ainda no centro de Araxá, a unidade do Sesc, que funcionava em um antigo espaço, abrigava um campinho muito usado pelos times da região. Próximo dali, outro espaço vibrava com as partidas, e hoje esse local é a praça de esportes do time amador Santa Terezinha. Além desses, outro campinho, localizado no início da Avenida Senador Montandon – onde hoje funciona a Clínica de Tênis da professora Jane Porfirio – também era frequentado pelo garotada. Esses eram os palcos onde o Estrela Futebol Clube, com seus jogos de rua, celebrava a amizade, a disciplina e os valores que hoje parecem tão distantes para as novas gerações.
Quanta saudade e quantos valores! Em meio a lembranças de tempos sem excessos, onde cada conquista e cada desafio eram vividos intensamente, fica a certeza de que os momentos de ontem moldaram a essência de quem somos hoje.
Essa narrativa resgata a atmosfera de uma época em que o esforço, a simplicidade e a verdadeira paixão pelas brincadeiras de rua e pelo esporte eram os verdadeiros tesouros da vida.
Se
quiser reviver mais detalhes dessa época, há registros e memórias
compartilhadas por apaixonados pelo futsal de Araxá, como no Blog
do Aurelio Ribeiro
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Em pé: Juninho Cascata, Waner, Ze Orlando e Dário
Agachados: Rui, Cesar, Aires, Marco Antônio e Fernando |